Vinyl #01— Visceral e sujo como tinha que ser

Luana Nova
2 min readMay 14, 2017

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“Eu lembro de quando vi o projeto. ‘Tudo bem: Martin Scorsese. Mick Jagger. Rock ’n’ roll. Eu não me importo o que será, não tem como eu não assistir” Terence Winter

Faço das palavras de um dos próprios produtores da série as minhas. Quem é fã do rock dos anos 70, especialmente do protopunk, não tem como não assistir mesmo. Vinyl é uma recriação perfeita da efervescente, caótica, suja e decadente Nova York, berço da expressividade artística da época e dona da porra toda.

A série, que conta com um episódio piloto com duração para um filme, reúne todo aquele toque de violência, máfia italiana e personagem de moral duvidosa que só Martin Scorsese sabe dar com toda a expertise que Mick Jagger possui acerca do mundo do rock, para mostrar os bastidores da indústria musical. Além do típico sex appeal da HBO, claro.

A trama tem como personagem principal o presidente da gravadora American Century, Richie Finestra (Bobby Cannavale), que entre carreiras de cocaína e um assassinato, precisa salvar sua empresa da crise e grande competitividade do mercado fonográfico, enquanto lida com as suas próprias cagadas.

Uma história paralela que promete é a do cantor de blues Lester Grimes, descoberto pela “orelha de ouro” do Richie num passado em que ambos trabalhavam num bar. Richie era o barman que viu em Lester, o bluesman, um talento e uma possibilidade de trabalho. Porém, as tretas das negociações e o preconceito racial não deixam a história acabar bem para o cantor.

O piloto começa e termina com o mesmo cenário, o show extravagante e destruidor (literalmente) dos New York Dolls, banda de glam rock que influenciou o movimento punk. Com uma bela retratação da cena underground, ao som da visceral Personality Crisis, vemos o ambiente desmoronar aos olhos (ou delírios) do protagonista.

O desmoronamento do Mercer Arts Center | Foto: New York Times

O mais interessante de tudo é que esse desmoronamento de fato ocorreu. Em 1973, o Mercer Arts Center, que inclusive foi palco para os New York Dolls, ficou só o pó (não que já não fosse, né). Só que não enquanto rolava um show, pelo menos.

Há quem diga que a produção desta série só serviu para reproduzir o ego de Martin Scorsese nas telas, que o nova iorquino já não é mais o mesmo que foi um dia em Os Bons Companheiros. E talvez não seja, mas… E daí? Assiste mesmo assim porque a trilha sonora está impecavelmente do caralho.

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